7 de março de 2018

Projetados no Brasil, blindado e fuzil são protagonistas em intervenção no Rio

Luis Kawaguti
Do UOL, no Rio
O Guarani, o novo blindado de transporte de tropas projetado pelo Exército, e o fuzil IA2, que será a arma padrão da força terrestre no Brasil, estão assumindo posições de protagonismo nas ações das Forças Armadas durante a intervenção no Rio de Janeiro.
Desde o decreto de intervenção, assinado em 16 de fevereiro, ao menos cinco grandes operações foram realizadas pelas Forças Armadas em favelas cariocas –entre elas, nas comunidades Kelson's (zona norte), Vila Kennedy (zona oeste) e Jardim Catarina (em São Gonçalo, região metropolitana).
A reportagem do UOL acompanhou essas ações e constatou ampla utilização das armas feitas "sob medida" para as Forças Armadas brasileiras. O governo não divulga, porém, os custos dessas operações.
Conheça abaixo esses e outros armamentos que estão sendo usados pelas Forças Armadas no Rio:
Blindado Guarani em operação no Jardim Catarina, em São Gonçalo (Luis Kawaguti/UOL)
Guarani
O blindado de transporte de tropas Guarani foi desenvolvido em 2007 e sua linha de produção começou a funcionar em 2013. O projeto pertence ao Exército e a produção é realizada em uma fábrica no Brasil da multinacional italiana Iveco.
Ele pode levar, a salvo de tiros de fuzil ou explosões de granadas, até 11 militares para áreas consideradas de risco em favelas.
Vem sendo usado em ações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) no Rio para permitir que pequenos grupos de militares controlem áreas amplas de favelas. É também usado para escoltar comboios de veículos mais vulneráveis até as áreas de operações.
O Guarani pesa 18 toneladas, pode atingir 110 km/h e tem capacidade anfíbia. É considerado hoje um dos principais projetos estratégicos do Exército, em termos de renovação de equipamentos militares.
Ele está substituindo gradativamente o blindado Urutu, também de transporte de tropas, amplamente utilizado em missões de GLO no Rio e na missão de paz da ONU no Haiti, que ocorreu entre 2004 e 2013.
Blindado Urutu na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (AFP PHOTO/ANTONIO SCORZA)
O Urutu ainda pode ser usado em operações de segurança pública porque tem pequenas dimensões e manobra facilmente nas ruas estreitas das favelas, mas é considerado obsoleto para guerra regular. Há cerca de 300 Urutus em operação pelo Brasil hoje.
O Guarani, porém, tem tecnologia mais avançada e pode carregar armas mais precisas. Segundo a Iveco, 280 unidades foram entregues para o Exército. Cada um custa pouco mais de R$ 1 milhão. A empresa disse que também vendeu 16 unidades para o Exército do Líbano.
Mas um dos fatos que mais agrada os soldados é prosaico: ele possui ar-condicionado.
23.fev.18- Militares do Exército usam fuzis IA2 em ação na Vila Aliança, no Rio de Janeiro (Luis Kawaguti/UOL)

Fuzil IA2
O IA2 é um fuzil produzido pela brasileira Imbel a partir de necessidades definidas pelo Exército. O objetivo é que, aos poucos, ele substitua o fuzil FAL como arma padrão dos soldados.
O FAL é ainda a arma mais comum do Exército brasileiro. Ele é um fuzil desenvolvido inicialmente na Bélgica, no fim da década de 40 e se tornou uma mas principais armas do Ocidente durante a Guerra Fria, adotada por exércitos de dezenas de países --inclusive membros da Otan (aliança militar ocidental). Atualmente, uma versão modernizada é produzida pela própria Imbel no Brasil.
A principal diferença entre o novo fuzil e o antigo é que o IA2 tem um calibre menor (5.56 mm) em relação ao FAL (7,62 mm). Na prática, isso significa que o FAL é mais mortal que o IA2.
Mas a capacidade destrutiva relativamente menor está de acordo com objetivos de guerra moderna que visam ferir os adversários ao invés de matá-los.
O fuzil novo é mais leve que o antigo e permite que sejam acoplados uma série de apetrechos, como, por exemplo, sistemas de mira mais precisos.
"Esse fuzil facilita as operações. Ele é muito preciso, muito mais leve para se carregar o dia inteiro e podemos levar mais munições", disse um militar sem se identificar ao UOL durante operação na Vila Kennedy.
No entanto, o IA2 também tem críticos --eles argumentam que o FAL seria uma arma mais efetiva em combate intenso e criticam o "coice" do IA2 (movimento para trás no momento do disparo), que dificultaria o processo de mira.
Antes de ser mais amplamente distribuído para as forças do Exército, uma reprodução de um fuzil muito parecido com o IA2 apareceu no filme "Tropa de Elite 2" (2010), nas mãos do personagem de Wagner Moura, o capitão Nascimento, quando ele sofre uma emboscada.
Mas esses dois fuzis não são os únicos usados nas operações de intervenção no Rio. Cada força armada usa um tipo específico de fuzil.
Os fuzileiros navais da Marinha utilizam, por exemplo, o fuzil M16, de origem americana. Essa arma ficou famosa na campanha do Vietnã e é a versão militar do fuzil de uso civil AR-15 --amplamente usado por organizações criminosas no Rio. Forças especiais da Marinha costumam usar miras especiais acopladas a esse fuzil.
Já as tropas de infantaria da Força Aérea, também presentes nas operações, usam o fuzil de origem alemã HK 33, de calibre 5,56 mm, que é produzido pela Heckler & Koch derivado de um fuzil do final da Segunda Guerra.
Militares em jipes Marruá na Vila Kennedy (Luis Kawaguti/UOL)
Jipe Marruá
O jipe Marruá é um veículo de tração 4x4 produzido pela empresa gaúcha Agrale que está sendo usado pelas Forças Armadas brasileiras desde 2004.
Ele é um veículo utilitário que tem funções múltiplas de transporte e combate. Serve tanto para levar tropas e equipamentos para o local das operações, como para realizar missões de patrulha. Nelas, os soldados ficam em pé na caçamba do veículo e podem atirar em movimento.

Veículos de apoio
Nem todos os equipamentos levados para os locais de operação são armas e veículos de combate.
Caminhões de transporte de tropas e ambulâncias permitem que grandes quantidades de militares operem em locais distantes de suas bases.
Tratores e máquinas pesadas são também usados por engenheiros militares para a destruição de barricadas erguidas pelo crime organizado nas favelas.
Sem elas, nem os blindados seriam capazes de operar na região, pois algumas das barricadas dificultam até mesmo o deslocamento dos Guaranis e Urutus.
UOL/montedo.com

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