16 de março de 2018

Ataque que matou vereadora do RJ é encarado como afronta no Exército, diz jornal

Assassinato de vereadora no Rio pressiona interventores federais
Ataque que também matou motorista é encarado como afronta no Exército
Resultado de imagem para marielle franco
Sérgio Rangel , Lucas Vettorazzo e Marina Dias
Colaboraram Gustavo Uribe, Bruno Boghossian e Reynaldo Turollo Jr. de Brasília
BRASÍLIA e RIO DE JANEIRO - O assassinato a tiros da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista e a repercussão nacional e internacional do crime reforçaram a pressão sobre os interventores federais no Rio, deixando encurralados os militares do Exército responsáveis pela segurança do estado.
Decretada pelo presidente Michel Temer (MDB) com a justificativa de frear a escalada da violência, a
intervenção completa um mês nesta sexta-feira (16), dois dias depois da morte de Marielle, 38, e do motorista Anderson Pedro Gomes, 39, em uma rua do Estácio, na zona norte, à noite, a menos de 200 metros de uma cabine da Polícia Militar.
Nascida e criada no complexo de favelas da Maré e crítica frequente da violência policial em áreas pobres, a vereadora levou quatro tiros na cabeça quando voltava de um evento. Nada foi roubado, e os criminosos fugiram. O motorista levou três tiros, e uma assessora sobreviveu. A principal hipótese dos investigadores é de crime premeditado.
Integrantes da cúpula da intervenção federal disseram à Folha que a ação criminosa contra uma autoridade, com potencial de repercussão política e social, foi vista como uma afronta ao trabalho dos militares do Exército.
Sob comando do general Walter Braga Netto, eles participaram de uma série de reuniões e cobraram da Polícia Civil, que teve seu comando trocado na última semana, um desfecho rápido sobre os autores do crime. Ao menos oito equipes da Delegacia de Homicídios trabalham no caso.
Oficialmente, Braga Netto evitou se expor. Limitou-se a divulgar nota dizendo repudiar ações criminosas e monitorar a investigação em contato permanente com Richard Fernandez Nunes , general nomeado secretário da Segurança.

PRESSÃO
Temer usou a expressão “extrema covardia” ao se referir ao assassinato da vereadora e disse que ele “não ficará impune”. “É um verdadeiro atentado ao Estado de Direito e à democracia.”
Auxiliares do presidente dizem temer que a morte de Marielle provoque desgaste na intervenção federal e comprometa os benefícios políticos que se esperava obter.
O governo avalia que é preciso mostrar resultado rapidamente — encontrando os culpados em até 48 horas — para que uma crise não se instale. “Precisamos continuar atuando para mostrar que estamos
combatendo o crime. Não vai haver recuo”, disse à Folha o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral).
A ideia é manter uma postura rígida para blindar a mensagem de que o governo atua contra a violência no Rio, além de impedir que a intervenção seja desmoralizada.
Parte do governo Temer pressiona os militares para aceitar um protagonismo maior da Polícia Federal
na investigação — ideia reforçada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
As cúpulas do Exército e da segurança federal resistem, por avaliar ameaça de descrédito à instituição e à polícia.
Ministros agiram para desvincular a morte de Marielledos resultados da ação militar no estado até
agora. “A morte da vereadora não afeta a intervenção federal no Rio”, declarou Torquato Jardim, ministro da Justiça.
“A intervenção nunca se propôs a fazer mágica”, afirmou Raul Jungmann, ministro da Segurança
Pública. Jungmann disse ter conversado com Raquel Dodge devido à pressão por atuação da PF na
apuração. “Esse trabalho já está federalizado, porque temos uma intervenção federal no estado. Estamos todos trabalhando juntos.”
Além de repercussão de autoridades, entidades e da mídia no país e no mundo, a morte da vereadora
mobilizou milhares de pessoas em protestos —os maiores, no centro do Rio e na avenida Paulista.
Em sessão do STF (Supremo Tribunal Federal), ministros também reagiram .“Tem faltado palavras para descrever o que está acontecendo no Rio, uma combinação medonha de desigualdade, corrupção e mediocridade.
Um círculo vicioso difícil de se romper e que tem conduzido à extrema violência”, disse Luís Roberto
Barroso. “Se há algo que é, no pior sentido, democrático, é o preconceito contra nós, mulheres, o que representa grande sofrimento. Chegamos, sim, a alguns cargos, a ministra Rosa [Weber], eu, a procuradora-geral [Raquel Dodge], mas nem por isso deixamos de sofrer discriminação. Que ninguém se engane sobre isso”, disse a presidente do STF, Cármen Lúcia, ao citar Marielle.

POLICIAIS
No mês passado, a vereadora havia sido nomeada relatora da comissão que acompanhará a intervenção federal no Rio. Marielle era contra a ação do governo federal. A participação de policiais —inclusive de milícias — na morte de Marielle é uma das hipóteses investigadas. 
No último dia 10, ela publicou texto em redes sociais denunciando abusos do 41º batalhão da PM contra moradores da favela de Acari. Antes do assassinato da vereadora, os interventores prenderam na quarta quatro PMs acusados de comandarem uma milícia na Baixada Fluminense. No mesmo dia, houve inspeção do Exército em um batalhão da PM.
O presidente da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, disse, depois de um encontro com Braga Netto, que a morte de Marielle pode ser uma reação “dos setores corruptos” da segurança pública contra a intervenção.
“É óbvio que quando se mexe em estruturas consolidadas da segurança pública pode haver uma reação.”
No primeiro mês da intervenção, militares do Exército fizeram mais de dez operações em diversas comunidades.
Nesta quarta, houve uma ação no morro do Viradouro, em Niterói, a 13 km do Rio. Mas a maioria das operações se concentrou na Vila Kennedy, zona oeste, reduto do Comando Vermelho.
Na noite de quarta, além da vereadora, dois homens foram assassinados em outras regiões da capital. Marcelo Diotti da Mata foi morto com tiros de fuzil no estacionamento de um restaurante na Barra da Tijuca, zona oeste. A polícia investiga a relação de milicianos no crime. O homem era marido da MC Samantha, ex-mulher de Cristiano Girão, apontado com chefe da milícia em uma região em Jacarepaguá.
FOLHA/montedo.com

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