21 de fevereiro de 2018

Cúpula militar receia uso político de intervenção

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Josias de Souza
O ritmo de toque de caixa que marca o início da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro ateou desconforto na cúpula das Forças Armadas. Em privado, os militares se queixam do excesso de improviso. Preferiam que o planejamento tivesse precedido o anúncio da novidade. Receiam que o trabalho a ser executado sob o comando do general-interventor Walter Braga Netto seja utilizado para fins político-eleitorais.
Sob o compromisso do anonimato, um oficial declarou ao blog: “Acionados nos termos da Constituição, estamos cumprindo nossa missão, como de hábito. Fazemos isso para servir ao país, não a interesses políticos. As Forças Armadas se confundem com o próprio Estado. Não seria aceitável que fossem utilizadas para fins eleitorais. Com razão, costuma-se dizer que militar não deve se meter em política. Do mesmo modo, não convém politizar ações militares.”
De acordo com o decreto editado por Temer e aprovado pelas duas Casas do Congresso, a intervenção vai durar até 31 de dezembro, último dia do atual governo. Com base na experiência de operações convencionais de manutenção da ordem, os militares avaliam que, num primeiro momento, o surto de violência que inquieta os cariocas será sedado pela presença das tropas e pelo refinamento da colaboração com as forças policiais do Estado.
Operadores políticos de Temer imaginam que esse efeito anestésico pode retirar a imagem do presidente da UTI, vitaminando seu projeto eleitoral. Desde que decidiu guindar a segurança pública à condição de prioridade, na terça-feira de Carnaval, Temer não dá nem “bom dia” sem consultar marqueteiros que leva a tiracolo. É indisfarçável a pretensão do presidente de extrair dividendos eleitorais da intervenção no Rio. Embora já tenha sido alertado sobre o incômodo dos militares, Temer parece dar de ombros. Encomendou uma pesquisa para avaliar os humores do eleitorado.
Para além da política, os militares revelam-se preocupados com o orçamento da intervenção. Receberam uma missão. E esperam contar com o dinheiro necessário para executá-la. Temer assegurou que não faltará verba. Mas as últimas declarações do ministro Henrique Meirelles (Fazenda) não soaram no mesmo tom.
O oficial que conversou com o blog carrega no bolso da farda um recorte de jornal com uma frase do ministro da Fazenda grifada em vermelho: “Estamos fazendo uma avaliação juntamente com o Ministério do Planejamento e com o Ministério da Defesa. Vamos ver se é necessário (recurso extra), se o que já está lá (no orçamento das Forças Armadas) será suficiente para custear as despesas. Governar é definir prioridades, e definir Orçamento também. Estamos já no teto de gastos, qualquer despesa adicional vai significar um remanejamento.”
Farejou-se na notícia uma pretensão de Meirelles de retirar do Orçamento das próprias Forças Armadas a verba a ser despejada no Rio. Os comandantes militares queixam-se de que suas forças já operam no osso. Reivindica-se mais verba. Remanejar o que já é insuficiente está fora de questão. Aguarda-se para os próximos dias a conclusão do plano de ação do general Braga Netto. Vai-se saber, então, o montante a ser pleiteado. Espera-se que Temer cumpra o compromisso de prover os meios.
UOL/montedo.com

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