16 de agosto de 2016

"São militares? Ou são atletas que são militares?", questiona o técnico do medalhista Arthur Zanetti após continência no pódio

Zanetti presta continência, mas técnico ataca: "Pegar atleta pronto é fácil"
Membro da Força Aérea Brasileira, ginasta repete gesto de Nory no pódio. Treinador, porém, cobra maior investimento na base e pede apoio aos técnicos no novo ciclo
O brasileiro Arthur Zanetti bate continência no pódio após conquistar a medalha de prata na disputa das argolas - 14/08/2016
Por Alexandre Alliatti, Amanda Kestelman, João Gabriel Rodrigues e Marcos Guerra
Rio de Janeiro
Quando subiu ao pódio, Arthur Zanetti ergueu o braço e levou a mão à testa. Atleta da Aeronáutica, o ginasta comemorou a prata nos Jogos do Rio com uma reverência à entidade, assim como fizera Arthur Nory ao festejar o bronze no solo. Com duas medalhas olímpicas no currículo, o brasileiro se uniu à Força Aérea Brasileira a menos de dois meses dos Jogos do Rio Rio. O fato, aliás, incomodou o técnico, Marcos Goto. Diante da crescente de atletas ligados a forças armadas, criticou o fato de o investimento só ser feito em nomes do esporte de alto rendimento.
- São militares? Ou são atletas que são militares? Eles não treinam lá, só são contratados por eles. Eu que dou treino para o meu atleta, não são militares. Polêmica sempre vai gerar, se presta continência ou se não presta. Se é militar, dá polêmica; se não é militar, dá polêmica. Tudo dá polêmica no Brasil. Não sei qual é o salário que dão para o Arthur. Gostaria que os militares fizessem um trabalho de base, tiraria o chapéu para eles. Agora, apoiar atleta de alto nível é muito fácil. Quero ver apoiar a criança até chegar lá. O dia em que os militares fizerem escolinhas e apoiarem iniciação esportiva, apoiarem treinadores, aí vou tirar o chapéu. Por enquanto, não. Pegar atleta pronto é muito fácil.
Zanetti fugiu da polêmica. O ginasta ressaltou a importância do investimento feito por seu clube, em São Caetano do Sul. E falou do apoio dado pela Força Aérea Brasileira.
- A gente tem nosso clube, a prefeitura que acaba bancando. Isso nem sempre é uma certeza. Mas sempre me ajudaram bastante. Não só eles, mas São Caetano do Sul, a cidade que treino. Meus patrocinadores e a Força Aérea Brasileira, também me ajudando bastante na minha carreira. (Prestei a continência) porque acho que um modo de expressar, dentro do meu país. E como faço parte da Força Aérea Brasileira, é um momento de felicidade, de alegria, para todo país.
Em nota oficial enviada ao GloboEsporte.com (leia a íntegra no fim da matéria), a assessoria de comunicação do Ministério da Defesa não se manifestou especificamente sobre as declarações de Goto, mas afirmou que "o ingresso do atleta nas Forças Armadas é voluntário" e que "os direitos salariais e todos os outros são exatamente os mesmos que os demais militares de graduação em serviço ativo têm".
Goto saiu da competição satisfeito com o rendimento de Zanetti. Diante da ótima exibição do grego Eleftherios Petrounias, festejou a prata. Mas, além das críticas aos militares, também reclamou do apoio dado aos técnicos dos atletas. O treinador espera que a situação mude até os Jogos de Tóquio.
- Nós estamos no Brasil. Temos medo a todo momento. Temos material. Acho que falta treinador. Vou te dar um exemplo: todos os atletas ganharam um telefone. Treinador ganha o quê? Nada! Medalhista ganha uma premiação. O que o treinador ganha? Nada. Para o Japão seria bom que todas as modalidades deixassem os treinadores em casa. Vamos ver o que vai acontecer na competição, porque treinador não serve para nada.
O técnico também é pessimista quanto à redução do investimento feito na ginástica após os Jogos do Rio. Goto acredita que se não houver diminuição do incentivo, os resultados devem melhorar em Tóquio. Mas reconhece que os atletas com maior rendimento deverão ser os alvos das receitas no próximo ciclo olímpico.
- Pode perder (o investimento) dependendo de quem vai liderar o processo. Nós conseguimos uma coisa que a ginástica não tinha no país, que é estrutura física, não tínhamos material. Hoje temos material sobrando no país. Se mantiver o que foi feito na ginástica (em termos de investimento), vamos ficar muito bem. Se cair, vai se apoiar quem já tem medalha e quem tem maior chance de medalha - afirmou.

Confira a nota oficial do Ministério da Defesa:
Em sintonia com o planejamento do Brasil no cenário esportivo de alto rendimento, os ministérios da Defesa e do Esporte uniram esforços para fortalecer o esporte nacional. Dessa forma, em 2008, foi criado o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) das Forças Armadas.
O ingresso do atleta nas Forças Armadas é voluntário. A convocação para integrar o PAAR é feita mediante edital público e inclui prova de títulos (currículo esportivo/resultados/ranking nacional). Os atletas são incorporados com graduações variadas e os direitos salariais e todos os outros são exatamente os mesmos que os demais militares de graduação em serviço ativo têm.
As Forças Armadas também contribuem com a preparação e a formação de atletas que, por meio de federações esportivas, podem utilizar as modernas instalações dos centros de treinamento da Marinha (Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes - CEFAN), do Exército (Centro de Capacitação Física do Exército e Complexo Esportivo de Deodoro) e da Aeronáutica (Universidade da Força Aérea - UNIFA).
Além do Programa Atletas de Alto Rendimento, o Ministério da Defesa desenvolve em parceria com os ministérios do Esporte e do Desenvolvimento Social e Agrário o projeto social Forças no Esporte (Profesp), que beneficia cerca de 21 mil crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.
Com atuação em 89 municípios de 26 estados brasileiros, tem por objetivo democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte, como fator de formação da cidadania e de melhoria da qualidade de vida, além de promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens.
Os alunos participam de atividades esportivas educacionais e de lazer, de reforço escolar, de aulas de música, de laboratórios de informática visando à inclusão digital e de oficinas de treinamentos que orientam para diversas especialidades técnicas, facilitando o ingresso no mercado de trabalho.
O Profesp também vem revelando alguns atletas promissores, como por exemplo, o jovem Joseias Chagas, de 17 anos, que pratica corrida de fundo de atletismo. Joseias vem conquistando medalhas em competições de sua categoria e inclusive, carregou a Tocha Olímpica, símbolo do desporto mundial, na cidade de Morrinhos (GO), representando o Programa de Desporto Militar.
GLOBO ESPORTE/montedo.com

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