24 de setembro de 2014

Comissão da (in) Verdade: General Heleno contesta Amorim e diz que não haverá pedido de desculpas.

Anos de chumbo: general contesta ministro e diz que não haverá pedido de desculpas
Comissão da Verdade quer reunião com Forças Armadas para posicionamento mais claro

VERA ARAÚJO E RAPHAEL KAPA
RIO — A notícia sobre o ofício enviado pelo Ministro da Defesa, Celso Amorim, à Comissão Nacional da Verdade (CNV) reconhecendo que as Forças Armadas praticaram tortura caiu como uma bomba no círculo militar. Pegos de surpresa, os oficiais da ativa não disfarçam o mal-estar com a decisão de Amorim. Militares da reserva como o general Augusto Heleno Pereira reacenderam a polêmica ao afirmar que as Forças Armadas não admitirão violações aos direitos humanos durante a ditadura.
— Pelo que li do ofício, em nenhum momento as Forças Armadas reconhecem a tortura. O reconhecimento aconteceu por parte do Ministério da Defesa. Esta história de querer que as Forças Armadas peçam desculpa... é lógico que ninguém vai aceitar isso aí. Não tem sentido essa orquestração. Eles vão pedir desculpas pelos inocentes que eles mataram? Anistia é esquecimento. A partir dali, começa vida nova. Não adianta resolver o passado só com um lado da história. Tudo isso é esquecido para transformar as Forças Armadas em vilã — afirmou o general Heleno.
— O governo já pagou polpudas indenizações pelo fato de ter reconhecido que o Estado brasileiro teria desrespeitado os direitos humanos. Algumas delas, estapafúrdias. Mas já estão pagas. Esta comissão não tem nenhuma credibilidade, pois só trabalha para um lado. Eles querem transformar guerrilheiros, assaltantes e assassinos em bonzinhos. Estão querendo fazer uma nova caça às bruxas — disse Heleno.
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Para o procurador da República Antônio Cabral, que participou do Grupo de Trabalho de Justiça de Transição do Ministério Público Federal do Rio, que investigou os crimes de violação aos direitos humanos durante a ditadura militar, está na hora de as Forças Armadas pedirem desculpas.
— As torturas e violações dos direitos humanos em instalações militares ficaram comprovadas em várias das nossas investigações. Não vemos, diante de tantas provas, como negar tal situação. Isso se contrapõe às alegações das Forças Armadas. Em toda sociedade, após conflitos, um tema importante é a reconciliação. Não adianta só punir os criminosos, sem pensar numa autorreflexão institucional. Acho que um reconhecimento das Forças Armadas, um pedido de desculpas, seria algo importante — disse Cabral.
O editor de opinião do Clube Militar do Rio, general da reserva Clovis Purper Bandeira, acha que o pedido de desculpas em público não é necessário:
— O reconhecimento já aconteceu por meio das indenizações milionárias. Falta investigar casos de militares que morreram como vítimas em explosões de carro.
O GLOBO/montedo.com

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