28 de março de 2014

O voto: essa arma que o militar insiste em ignorar!

João Bitencourt *
QUEM NÃO TEM BANCADA NÃO TEM NADA! SEM REPRESENTAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO!

Um dos piores defeitos do ser humano é a ignorância sobre assuntos que lhe dizem respeito e a insistência em se manter assim, mesmo quando para isso é chamado à razão!
Há muitos anos, ainda sargento da FAB, já politizado no meu Rio Grande do Sul, Estado onde a política e a politização fazem parte da nossa formação como cidadão e da nossa conscientizaç
ão enquanto pessoa, coisa que vivemos e respiramos desde cedo, vi que algo estava errado e que precisava fazer alguma coisa para modificar aquele estado de letargia que habita a caserna, já que os colegas nada faziam e ainda recriminavam quem ousasse falar ou fazer política no meio, além de possíveis represálias vindas dos superiores, me fizeram lançar o desafio e colocar à prova a máxima de que o militar não fala e não faz política, coisa que mais ouvia no meio, até em tom de ameaça. Desde lá, já tinha tomado a decisão de que iria enfrentar o sistema e lutar pela formação de uma bancada militar no Congresso, sabendo que isso iria me custar caro, como custou: fui preso e perseguido, por ousar pedir em manifesto escrito, melhores salários, 13º salário, direito de vender parte das férias e também o direito de voto a cabos soldados e taifeiros das FFAA e auxiliares, direito que não tinham. O preço foi alto, mas não me arrependo porque venci e hoje aqueles que até então não votavam e nem podiam ser votados, HOJE votam, além do que, tivemos aumento à época, passamos a poder vender parte das férias e conquistamos o direito ao 13º, estes, dados ainda pelo então Presidente Sarney, fato divulgado pelos principais jornais do Rio de Janeiro. Vejam o JB da época - abril de 1986!
Pois bem, lá atrás, há mais de 25 anos, como disse acima, eu já via o voto como arma/instrumento de transformação social e meio de lutas numa sociedade plural e democrática. Como sou contra rupturas institucionais e defensor das lutas democráticas vi que a nossa classe, a dos militares, como as demais classes trabalhadoras podia e pode, usar essa arma, o voto, como ferramenta e até mesmo como instrumento de lutas e reivindicações, sem sofrer qualquer impedimento legal ou de seus superiores, já que é proibida pelos mecanismos castrenses, opressores e controladores, arcaicos e destoantes das leis civis vigentes. Por ele e através dele, tudo podemos sem medo ou opressão, pois na solidão da cabine de votação, podemos expressar nossa vontade, sem controle interno ou externo!
Mas passados mais de vinte e cinco anos, vejo que nada mudou na mente forjada e ferro e fogo nas nossas escolas de formação, onde velhos e arcaicos regulamentos nos são apresentados como forma de conduta e ações na vida da caserna assim como na vida civil, como se fossemos um cidadão não comum e uma classe trabalhadora estanque das demais. Ledo engano!
Tenho “pregado no deserto” a importância do VOTO, e não é de hoje, mas vejo que a grande maioria dos colegas, o ignora, e não conhecem sua importância na vida em sociedade de um país democrático, como o nosso se apresenta, e que essa é, no nosso caso, a arma de transformação mais poderosa que temos e que, como tenho dito, infelizmente não sabemos usar, até por certa ignorância sobre a mesma e o medo que nos impingiram em doutrinamentos nos quartéis, de como usá-lo, e fazer valer nossa vontade política.
Cumpre aqui fazer publicamente, um elogio ao colega Roberto Alves, esse incansável guerreiro que, tem envidado esforços diuturnamente, para informar e abrir corações e mentes de colegas, com suas consultorias e esclarecimentos aos colegas que apresentam suas mais diferentes dúvidas sobre assuntos em geral. Foi ele que, na última eleição para o Congresso, criou uma corrente no meio militar pedindo a cada colega que, mesmo morando em outro Estado da Federação, tendo parentes no Rio, SP, etc., pedisse a eles que conclamassem seus parentes distantes, amigos e colegas de farda a votarem em candidatos militares no seu domicílio. Ou seja: eu no Rio, pediria para meus parentes do RS, votarem num determinado candidato naquele Estado, e assim por diante. Brilhante essa ideia e que deve ser levada a cabo, no próximo pleito e em outros doravante. Ele mesmo, após conhecer a histórias de candidatos que lhe foram apresentadas e com ela(s) se afeiçoou, pedia, semanalmente: “votem no nosso candidato militar no RJ, SP, MG, etc”. Assim fez durante todo aquele pleito!
Importante dizer ainda que no assunto VOTO, tema desse artigo, mesmo que não gostemos e eu não gosto, os Petralhas, lá na década de 80, quando surgiram no cenário político nacional, hão de lembrar, que eles se organizaram e passaram a perseguir uma estruturação para a conquista do Poder, conscientizando seus adeptos de que unidos seriam fortes e passaram a construir suas bases, pelo VOTO, iniciando pela vereança, depois o executivo municipal, as Assembleias estaduais, depois o governo dos Estados, senadores e, por fim, o Poder Central, esse conquistado depois de quatro tentativas com o molusco barbudo, e hoje, ameaçam se perpetuarem no Planalto, se nada fizermos e, repito, a arma para defenestrá-los é o VOTO, essa arma que ainda não nos tiraram o nosso direito de USAR.
A caserna e seus comandantes sabem e sempre souberam da importância do VOTO como arma de luta, como instrumento de libertação, e que isso, de certa forma, e em suas visões estrábicas, representava perigo! Foi assim que, durante o regime militar, condicionou aos Clubes Militares, principalmente os dos graduados - esses militares que são a maioria -, a colocarem em seus estatutos, como condicionante para o chamado desconto em folha, das mensalidades dos associados, a não permissão de envolvimento com política ou com políticos, mesmo candidatos da classe, em suas dependências, sob pena de cancelar aquele desconto, o que manietou(amarrou) essas Entidades da nossa Classe, impedindo-as de qualquer ação ou manifestação de cunho político ou de apoio qualquer a candidatos, sufocando-os e aprisionando-os num toma lá da cá, vil e covarde que não cabe mais em pleno século 21.
Me veio à memória um diálogo que tive com amigos do RS, aqui no Rio, para mostrar a importância da politização e da consciência política na hora do VOTO. Os Petralhas na década de 90, se não estou enganado, comandaram, ininterruptamente, Porto Alegre, por dezesseis anos e transforamaram a capital gaúcha, num brinco, com perimetrais, orçamento participativo , transpostre de qualidade, etc, mas os portoalegrenses resolveram tirá-los do comando municipal, elegendo prefeito o pemedebista José, o que me fez questioná-los sobre a mudança radical e de comportamento dos eleitores, e a resposta foi simples e objetiva: “O Poder na mão de um grupo por muito tempo, é PERIGOSO”!
Lembrem: Um povo culto e politizado é insuscetível de ser manobrado!
O medo de perder de vez a interlocução com o governo, perdida que esta desde que lhes foi ceifado o cargo de ministro e passaram a ser estafetas de luxo de um paisano que Comanda a Defesa, o faz serem contra e trabalharem incisivamente para que uma bancada não se forme no Congresso, dificultando e até perseguindo colegas destemidos e que vêm esse caminho como o único capaz de mudar a situação atual de penúria, de salários aviltados e Forças sucateadas por uma política de destruição das mesmas, que marcha a passos largos e sem oposição daqueles que deviam e têm a obrigação legal e constitucional de por um basta nisso, como soe acontecer nas Unidades dos Afonsos e Santa Cruz/Rio.
Tenho que ressalta ainda, a importante campanha empreendida no MONTEDO no sentido de exortar colegas a transferirem seus títulos de eleitor e de familiares, para os domicílios eleitorais onde hoje residem para votarem em colegas candidatos, coisa que a maioria não faz preferindo justificar a ausência, tudo por preguiça de exercer a cidadania.
Por fim, aqueles que não me conhecem e desconhecem a minha LUTA incessante, desde 1986, pela formação de uma bancada militar no Congresso e me atacam de forma vil e covarde porque escondidos pelo anonimato, os exorto a conhecerem e verem quem realmente sou e porque, aqui fora, ainda insisto em defender a família militar, coisa que certamente, “eles”, nunca fizeram e não farão. Lembro ainda que fui do EB antes de ir para a FAB, totalizando mais de 20 anos de serviço, somados os dois períodos, até ser preso em 1986, lutando por direitos dos militares!
Repetindo e chamando a atenção sobre esse grupelho instalado no Poder Central, indo para doze anos e que pode chegar a dezesseis, pelo voto, e que tem um projeto de poder, e não político: “O Poder na mão de um, grupo por muito tempo, é PERIGOSO”!.
Quero deixar mais uma vez o meu apelo para que deixemos de lado as questiúnculas insanas e desagregadoras que permeiam a classe, desde muito tempo, para um engajamento com reunião e união de todos afim de construir a nossa bancada militar, usando como arma o poderosa VOTO, sem o que continuaremos a professar lamentos, “nos alojamentos das unidades”, como disse outro dia um colega. E ai, Inês é morta!.
QUEM NÃO TEM BANCADA NÃO TEM NADA!
SEM REPRESENTAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO!
Pensem nisso!
*Advogado criminalista e ex-Sargento da FAB

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