22 de dezembro de 2012

A farsa, a pantomima e o deputado

Carlos Chagas

Adaucto Lúcio Cardoso
Marx afirmou, Lênin repetiu: a História só se repete como farsa. Em 1966, Castelo Branco cassou o mandato de mais três deputados, às vésperas da instalação de uma Assembléia Constituinte fajuta, convocada pelo Ato Institucional número 4. O primeiro marechal-presidente havia prometido ao presidente da Câmara, Adaucto Lúcio Cardoso, que não cassaria mais parlamentares, em homenagem à nova Constituição a ser feita. Terá sido pressionado pela linha-dura, cedeu e viu eclodir a crise. Adauto não aceitou o gesto truculento e continuou dando a palavra aos três deputados. Por uma questão de cautela, pediu que se transferissem para a enfermaria da casa, onde passaram a dormir e a fazer as refeições. Seguiu-se a invasão do Congresso por tropa armada, liderada pelo coronel Meira Matos.
Merece ser reproduzido o diálogo entre o militar e o presidente da Câmara, cercados por soldados de fuzis embalados:
- Alto! Quem vem lá?
- O senhor, quem é?
- Sou o poder civil, e o senhor?
- Sou o poder militar!
- Curvo-me diante da força e cumprimento os fuzis!
As palavras de Adaucto, pronunciadas em meio a uma reverência maliciosa, eram as mesmas ditas por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, em 1823, quando por ordem de D. Pedro I os militares fecharam a primeira Assembléia Nacional Constituinte de nossa História.
O episódio engrandeceu o Congresso, apesar do triste resultado. Os três deputados foram presos e perderam os mandatos.
Marco Maia, o boquirroto
Agora vem a farsa. O atual presidente da Câmara, diante da cassação de três deputados por sentença do Supremo Tribunal Federal, arvora-se em repetir o episódio anterior. Quinta-feira, quando se duvidava da prisão imediata dos deputados condenados por corrupção, o deputado Marco Maia ofereceu-se para abrigá-los nas dependências da Câmara, insurgindo-se contra a possível aplicação da lei pelo ministro Joaquim Barbosa. Em nenhum momento a situação foi a mesma, a ditadura saiu pelo ralo, mas o representante gaúcho embaralhou as cartas e procurou confundir-se com o ilustre antecessor de 46 anos atrás. Não conseguiu. Apenas encenou uma pantomima...
Cláudio Humberto/montedo.com

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