29 de julho de 2011

FX-2: SAAB QUESTIONA: "O BRASIL VAI CONTINUAR DEPENDENDO DE TECNOLOGIA ESTRANGEIRA?"

Saab: 'O Brasil vai continuar a depender de tecnologia estrangeira?'
Suecos insistem em projeto mais barato para o Brasil e afirmam que optar por desenvolver tecnologia própria é decisão política

Flávia Salme
"Estamos quebrando um paradigma", afirma Bengt
 Javer, representante da sueca Saab no Brasil

Único monomotor na disputa pelo reaparelhamento da frota de caças brasileiros da FAB, o Gripen tenta convencer o governo brasileiro de que pode ser tão capaz e eficiente quanto os caças Rafale (francês) e F-18 Super Hornet (americano). “Nós não somos nem melhores nem piores”, diz o representante da fabricante sueca Saab no Brasil, Bengt Janér. “Mas estamos quebrando um paradigma”, afirma o executivo.
Os suecos contam com a simpatia de militares de Aeronáutica e prometem não só o menor preço – estima-se que o caça Gripen custe US$ 4 bilhões –, mas também a melhor condição de pagamento. “Preço fixo, nenhum desembolso nos primeiros 8 anos, parcelamento em 15 anos e utilização da moeda de preferência (euro ou dólar)”, anuncia a proposta de divulgação.
Os suecos também afirmam que 30% dos investimentos resultantes dessa parceria permanecerão no Brasil. E para entender o que isso significa, eles vão além: garantem que a indústria nacional desenvolverá até 40% de todo o programa Gripen no mundo.
O argumento final tenta convencer o governo brasileiro a favor monomotor: transferência total de tecnologia para o País, o que inclui códigos-fonte e propriedade intelectual. “A tecnologia desenvolvida aqui não será produzida em nenhum outro país, incluindo a Suécia. O Brasil será exportador”, prometem.

A seguir, saiba mais o que diz Janér sobre a proposta do Gripen NG.
iG: Os concorrentes acusam o Gripen NG de nem existir. Afirmam que a opção pelo caça significa realizar uma compra “no escuro”. Em que consiste a proposta de criar um caça em parceria com o Brasil?
Bengt Janér: Hoje existem 232 caças Gripen voando em cinco forças aéreas: Suécia, Hungria, República Tcheca, África do Sul e Tailândia. Estamos propondo, a partir desses caças, uma parceria com o Brasil para desenvolver a nova geração. Continua monomotor, o que faz dele extremamente econômico, só que com aumento de tração. Estamos aumentando o alcance em mais de 40%; trocando o trem de pouso da fuselagem para as asas; instalando novo radar e integrando novos armamentos, sensores, computadores e softwares. O Brasil vai continuar a depender de tecnologia estrangeira ou vai ter a sua própria? O significado maior da parceria é esse.

iG: O ex-presidente Lula declarou a preferência pelo francês Rafale, mas há informações que no relatório da FAB os militares teriam declarado apoio ao Gripen. Como o senhor define a vantagem do caça sueco?
Janér: Pelas nossas estimativas, o Gripen custa hoje aproximadamente US$ 5 mil a hora de voo (incluindo o combustível sobressalente, a manutenção e o óleo lubrificante), enquanto que um Rafale custa US$ 20 mil e o da Boeing US$, 10 mil. Quando você tem dois motores, você carrega um peso muito maior, o que faz dos outros caças mais caros. E eles não carregam mais armamentos ou carga que os monomotores. Têm uma tração boa, mas são mais caros. Nós não somos nem melhores nem piores.

iG: O senhor afirma que não risco em apostar em um projeto que ainda vai ser desenvolvido?
Janér: Temos uma janela de oportunidade que estamos dispostos a compartilhar. Insisto, o problema dos outros é que já estão prontos e, portanto, não tem como fazer isso, até porque o projeto deles foi congelado vários anos atrás. Por exemplo, a Boeing teve a configuração do F-18 Super Hornet congelada na década de 1980, o Rafale, em 90. Vejo uma bifurcação: uma coisa é você viver num mundo onde você faz trocas comerciais para aumentar a margem de algumas empresas, a outra é desenvolver sua própria tecnologia.

iG: Os concorrentes afirmam que a configuração de seus caças é uma arquitetura aberta, que pode ser modernizada por mais 30 anos, que é o tempo de vida dos caças...
Janér: Estamos quebrando um paradigma. Você congela a configuração de uma aeronave muito antes de ela entrar em operação. E não se muda computadores e sensores a toda hora. Uma aeronave dura aproximadamente 30 anos e nesse período é feita uma atualização de meia vida, em que se troca computadores e etc. Criar uma nova geração de Gripens ficará muito mais barato no que diz respeito a integrar armamentos e outras peças. Colocar novos armamentos nos outros é possível, mas muito mais caro.

iG: A principal defesa do projeto Gripen se baseia no apelo de o caça ser mais barato. O senhor considera esse motivo suficiente para justificar uma opção de compra que também é política?
Janér: A questão da tecnologia é uma decisão política. As empresas brasileiras que participarem do processo poderão utilizar tecnologias em outras áreas, por que a gente prometeu compartilhar a propriedade intelectual de tudo que for desenvolvido em conjunto. Mas o orçamento é importante. O gasto com manutenção sai do orçamento da Aeronáutica. Geralmente são 75% com pessoal, 25% custeio e 5% investimentos. Quando há um corte de orçamento, como houve esse ano, todo mundo sente. O comandante terá que decidir que aeronave deixar no chão.

iG: Assim como os franceses, os suecos também investem em parcerias com empresas brasileiras. É um jeito de conquistar adeptos ao projeto?
Janér: Estamos investindo no Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (CISB), em São Bernardo do Campo (SP). Temos interesse em profissionais qualificados e acreditamos que haverá demanda de mão de obra. Nossos planos incluem investir na fabricação de aeroestruturas em parceria com indústrias nacionais. Por exemplo, a produção da fuselagem central, traseira e das asas do Gripen NG, independentemente do resultado disputa, será feito por uma empresa brasileira.

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