9 de maio de 2011

LENDA MILITAR: RICHARD MARCINKO, FUNDADOR DA TROPA QUE MATOU OSAMA BIN LADEN

Fundador da tropa que matou Osama é considerado uma lenda militar

Richard Marcinko vive em uma floresta perto da capital americana.
Saiba como é treinada a tropa de elite que matou Osama Bin Laden.

Na semana em que o terrorista mais procurado do mundo, Osama Bin Laden, foi morto pelos Estados Unidos, uma reportagem do Fantástico mostra como funciona a tropa de elite que praticou a ação: o Time Seis, Team Six dos Navy Seals, responsável pela ação que matou o maior terrorista de todos os tempos.
A tropa foi idealizada e fundada por Richard Marcinko, de 70 anos, que é considerado uma lenda militar americana. Na frente da propriedade onde Marcinko mora, na floresta perto da capital americana, há um aviso: invasores levam bala. Sobreviventes levam mais bala. Crianças compram bonecos dos seus tempos de ação. Sua auto-biografia é um sucesso de vendas.
Veterano do Vietnã, Dick Marcinko foi criado dentro da Tropa Especial da Marinha, os Navy Seals, as iniciais em inglês para operações no mar, ar e terra. Comandos que recrutam os mais fortes, os mais inteligentes, os mais determinados e mesmo assim, perdem 80% de seus homens nos dois primeiros anos, simplesmente porque eles não suportam a pressão.
No final dos anos 1970, quando cidadãos americanos foram feitos reféns na própria embaixada em Teerã, no Irã, uma operação fracassada mostrou que nem os Seals estavam preparados o bastante.
“Eu trabalhava no pentágono quando a missão no Irã falhou. Percebemos que precisávamos ter um time que combatesse exclusivamente o terrorismo. Fui nomeado o primeiro comandante”, contou Marcinko.
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Marcinko teve carta branca para recrutar a força especial que responde não à Marinha, e sim diretamente ao presidente dos Estados Unidos. Mas buscou apenas entre os Seals, que na época tinha só duas equipes. Então, por que essa foi a equipe seis, o team six?
“Em tempos de Guerra Fria, resolvi chamar de time seis para confundir os russos. Assim eles ficariam se perguntando: ‘Onde estão os times 3,4,e 5?’”, explicou o veterano.
Marcinko submeteu os já super bem treinados Seals ao inferno. Uma semana especialmente dura seleciona os candidatos. Os poucos que chegam lá formam um grupo unido, uma fraternidade impenetrável. “Somos uma família”, diz o fundador. “Uma espécie de máfia militar, que cuida dos seus e vinga os seus.
Treinamento físico, humilhações, privação de sono. E tem que ser capaz de ter uma pontaria infalível nas piores condições: depois de nadar contra a corrente, sair de submarinos, saltar de paraquedas”.
“É como os disparos que atingiram os piratas da Somália há dois anos”, lembra Marcinko. “Mesmo com o navio em movimento, você precisa acertar, porque senão o refém é morto e a missão está perdida”.

Curso no Brasil
Os Navy Seals estiveram no Brasil em 2010 durante um mês no Batalhão Tonelero, dos Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro. Eles fizeram um treinamento conjunto com o grupo especial de retomada e resgate. São 48 homens muito bem treinados que formam a elite dos fuzileiros navais.
Onde os brasileiros treinam constantemente, os Seals construíram um cenário de combate a terrorismo urbano. Em imagens gravadas pela Marinha do Brasil, os Seals aparecem por vezes de camisas azuis, outras de bege. Foi uma troca de experiências importante para estes brasileiros, que nunca testaram suas habilidades em guerra.
“Cada vez mais, quando executamos um exercício dessa natureza ou outro qualquer que possamos melhorar a nossa condição profissional, esse é o processo motivatório”, afirmou o comandante da Marinha Fernando José Afonso Sousa.

Ação contra Osama
Construir cenários para treinamentos é padrão. Uma réplica da casa de Bin Laden foi erguida em Kabul, no Afeganistão. No local, o Team Six, formado por combatentes experientes, com pelo menos uma dezena de missões importantes, simulou todos os cenários possíveis. O criador do grupo explica que na missão para valer não há tempo para discutir ‘o que faremos agora?”. Eles já saem preparados para qualquer situação.
"Em uma situação como essa, tudo o que se move é alvo. A ordem é atirar"

Richard Marcinko, idealizador e fundador da Team Six dos Navy Seals
Pouco depois da meia-noite do dia 2 de maio, hora local, dois helicópteros partiram de uma base militar americana em Jalalabad, Afeganistão, rumo a Abbottabad, Paquistão. Seriam helicópteros Stealth, invisíveis aos radares.
Levavam 24 soldados e um cão farejador. Os helicópteros chegaram à casa de Bin Laden em menos de uma hora. Um morador ouviu o barulho e postou uma mensagem em uma rede social: "Helicóptero paira em Abbottabad a uma hora da manhã (é um evento raro)".
Doze homens desceram de um dos helicópteros e escalaram o muro de quase seis metros. O cão desceu pendurado em um dos soldados. O segundo helicóptero caiu ou fez um pouso de emergência. Nenhum dos 12 seals se machucou. Pelo rádio, as equipes pediram reforço. Em pouco tempo, mais um helicóptero chegaria. O cachorro procurava por explosivos, mas ele também poderia dar o alerta se alguém estivesse escondido em algum quarto secreto.
Os seals precisaram abrir buracos em três ou quatro muros para chegar até a casa. Dentro dela, apenas um homem atirou neles: Abu Ahmed Al-Kuwaiti, o principal mensageiro de Bin Laden. Ele, outro homem e uma mulher foram mortos.
Os seals então subiram ao terceiro andar. Não está claro se foi no local que mataram um dos filhos de Bin Laden. Finalmente chegaram ao quarto onde estava o chefe da Al Qaeda, a mulher, a iemenita Amal Al Sadah, e a filha dele, de 12 anos. Todos estavam desarmados, mas perto de Bin Laden havia um fuzil AK-47.
A mulher tentou parar os soldados e levou um tiro na perna. E Bin Laden levou dois tiros: um no peito e outro na cabeça, acima do olho esquerdo. Nas roupas dele, estavam escondidos 500 euros e dois números de telefone.
“Se Bin Laden tivesse se entregado, não teria sido morto. Aí, a única preocupação seria não ferir um refém”, explica Marcinko. “Em uma situação como essa, tudo o que se move é alvo. A ordem é atirar”. Os soldados então recolheram computadores e cinco celulares.
“Neste momento, começa a segunda parte da missão, tão dura quanto a outra”, diz Marcinko. “Retirar o corpo de Bin Laden para comprovar que era mesmo ele. Uma missão mais fácil seria jogar uma bomba de mil quilos e explodir a casa. Mas aí, como provar que era Bin Laden?”
Antes de partir, os seals incendiaram o helicóptero danificado. O fundador do Team Six explica que isso é padrão operacional. O objetivo é não deixar para trás equipamentos eletrônicos e informações tecnológicas. O mesmo internauta que registrou a chegada dos helicópteros gravou imagens das chamas. Um terceiro helicóptero veio recolher o corpo de Bin Laden. O tempo da ação foi de 40 minutos.
Os americanos comemoraram o sucesso da operação, mas nunca vão saber a identidade dos homens que chamam de heróis. Até o agradecimento do presidente Obama foi a portas fechadas. “Matar Bin Laden é o sucesso de hoje”, avalia o veterano. “Mas em alguns meses, quando finalmente decifrarmos tudo o que foi recolhido na casa, que segundo a CIA era o centro de comanda da Al Qaeda, veremos que o acesso a essas informações foi mais importante do que matar Bin Laden”.


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