28 de novembro de 2010

GUERRA NO RJ: FUTURO DEPENDE DAS FORÇAS ARMADAS, DIZEM ESPECIALISTAS

Para experts, operação está nas mãos do Exército; ex-comandante da Operação Rio diz que invasão do Alemão exigiria 6 mil homens
Alfredo Junqueira
Apontadas como decisivas para a vitória da polícia do Rio contra as quadrilhas de traficantes que aterrorizam o Estado, as operações de cerco e conquista do Complexo do Alemão - conjunto de 18 favelas na zona norte da capital fluminense - vão depender totalmente do auxílio logístico das Forças Armadas. A avaliação é de especialistas e pesquisadores ouvidos pelo Estado.
Segundo eles, as forças policiais do Rio não têm efetivo operacional suficiente para enfrentar sozinhas os cerca de 500 criminosos entrincheirados nas comunidades, armados com fuzis e protegidos em bunkers e casamatas misturadas aos barracos. Com isso, a participação de militares torna-se fundamental para o sucesso da empreitada. Mais do que transportar policiais e fornecer equipamentos modernos para combate, os integrantes das Forças Armadas vão manter as posições de cerco e impedir a fuga de traficantes.
Comandante da Operação Rio de ocu pação dos morros fluminenses de novembro de 1994 a maio de 1995, o general do Exército na reserva Roberto Jugurtha Câmara Senna tomou o Alemão na ocasião usando 8 mil homens - 4 mil para o cerco e mais 4 mil para vasculhar o complexo. Embora reconheça que a conjuntura atual é totalmente diferente, principalmente pelo nível de armamento dos traficantes e pelo crescimento da comunidade, Câmara Senna acredita ser possível o sucesso da operação. Para isso, ele destaca ser fundamental uma ação coordenada.
"O efetivo operacional da polícia do Rio é muito reduzido para uma operação como essa. Praticamente só tem o Bope (Batalhão de Operações Especiais) para atuar nessa área", destaca o comandante da Operação Rio. "Não quero que isso seja visto como um conselho, mas creio que será necessário um efetivo de 3 mil homens para cercar e mais 3 mil para entrar na comunidade. É preciso elaborar ação coordenada, para causar o mínimo de dano. Mas, para tudo isso acontecer, será necessário vontade política para resolver", afirmou Câmara Senna.
O general ainda fez uma ressalva para a questão jurídica da operação. Após as ações de 1994 e 1995, ele lembra, "muito criminosos que nós prendemos foram soltos pela Justiça". Além disso, militares tiveram problemas jurídicos em decorrência da Operação Rio.
Cobertor curto. A avaliação do general Câmara Senna é referendada por outro oficial do Exército na reserva, que já integrou a cúpula da Secretaria de Segurança do Rio, mas que pediu para não ser identificado. Segundo ele, as forças policiais poderiam até fazer tudo sozinhas no cerco ao Complexo do Alemão, mas, como o efetivo é reduzido, as demais áreas do Estado ficariam desprotegidas.
"Avalio que a PM e a (Polícia) Civil não têm força para isso. Se você concentrar tudo lá, é até possível. Mas o cobertor é curto. Os bandidos estão atacando é no asfalto. O morro virou local de esconderijo. E o Alemão é grande demais. Não é Rocinha, nem Mangueira", argumentou.
Invasão. Já o professor de Relações Internacionais da PUC-Rio e pesquisador de conflitos militares Márcio Scalercio acredita que as forças de segurança vão dar prioridade à tática de sufocar os traficantes para vencer a batalha no Complexo do Alemão. Ele avalia que o objetivo de policiais e militares, neste momento, é desgastar os criminosos, fazê-los gastar o máximo possível de munição e, com isso, tentar minimizar o número de baixas quando houver a invasão.
"Acredito que vão isolar o Complexo do Alemão por alguns dias para depois entrar. E a operação vai custar o dinheiro que tiver de custar", disse Scalercio. Para ele, a operação da Vila Cruzeiro, ocorrida na quinta-feira, demonstra a falta total de capacidade de planejamento dos traficantes. "Eles devem ter depósitos de munição escondidos no Alemão, mas, na fuga precipitada, devem ter deixado muita coisa para trás na Vila Cruzeiro. Aquela turma que fugiu para o Alemão, pelo que eu vi, fugiu com fuzil e mochila. Eles podem ter levado munição, mas também pode ser o tênis favorito, roupa, um pouco de drogas. Eu não sei qual a estrutura em termos de munição, eles têm o Alemão para resistir a um grande tiroteio com a polícia - supondo que a área seja isolada. E aí eles não conseguem receber munição de fora."
O ESTADO DE SÃO PAULO

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